sábado, 18 de outubro de 2008

Conversando

Sabe o que é lutar por alguma coisa? Não? Eu também. Quer dizer, acho que até então não sabia. Quando era pequena e queria uma boneca, pedia ao meu pai ele ia lá e comprava. Quando não dava... Eu esquecia dela. Não sei ao certo o porquê, mas cresci achando que esforço era uma coisa meio vergonhosa. Hoje entendo que meu referencial de vencedores é que não era muito bom.

Sei lá porque comecei falando de lutas e vencedores! Queria falar de amor...
Amor e luta se combinam? Acho que se luta pelo o quê se ama. Essa é a conexão entre amor e luta. Estou amando e lutando. Talvez por isso tenha começado meu relato pela luta. Tem sido uma luta... Para uns amar é tão bom, para mim sempre foi algo angustiante. Com momentos de leveza, sim, claro! Mas angustiante. Me chamo Liana e converso com minha própria consciência diante de uma lua cheia mágica na praia do Arpoador no Rio de Janeiro.

Que noite! Que lua!

É sou carioca, de crachá e tudo, nascida e criada na Tijuca, bairro de suburbanos metidos à zona sul.
Sou flamengo, sou mangueira, mas só no dia da apuração, nem sempre vejo o desfile. Pra falar a verdade, não vejo. Ano passado mal sabia o samba. Minha consciência está dizendo que é para eu falar a verdade. Ok, ok, eu não sabia. Mas no dia da apuração dos votos eu sempre pergunto:

- E a mangueira gente, como está?

Às vezes vai bem, outras mal. No entanto, estou sempre lá torcendo por ela.

Completo 30 anos na semana que vem. Cheguei a idade da grande mulher de Balzac: madura, sem cica. Será? Sinceramente? Não sei...
Os publicitários embarcaram na viagem de Balzac e propagaram a idéia de que a mulher de trinta é magnífica, a bem sucedida no trabalho, no amor, na vida! Quem não se encaixa nessa regra, entra em crise. Ela pode até dizer para as amigas que não, mas entra em crise, sim! Não adianta é a idade em que nos olhamos no espelho e vemos as primeiras marcas que a vida começa a deixar no nosso rosto. Lembro-me do dia em que vi meu primeiro pé de galinha. Cheguei do trabalho cansada, larguei a bolsa no sofá, fui lavar o rosto. Joguei água, um pouquinho de sabão, esfreguei, esfreguei, joguei água para enxaguar, tiro o excesso dela na área dos olhos e...

- Aaaaaaaahhhh! - Gritei. Tive que gritar. Eram três, três linhas. Uma em cada olho e outra entre as sobrancelhas. Hoje já me acostumei com elas. Já sinto até um certo orgulho. Coisa discreta, mas sinto.

Eles chegaram, não sei como, mas chegaram. Os 30 anos e as primeiras rugas estavam lá para comprovar esse fato. Olhei para o sabão e pensei: “Está na hora de comprar um gel de limpeza antiidade”.Comprei.

Sou mulher, heterossexual, diga-se de passagem. Hoje em dia é bom deixar isso bem claro, as coisas estão tão loucas. Homem com homem, mulher com mulher, os quarto juntos e mais uns desconhecidos, todo mundo numa mesma suruba. Tem a tribo dos Homo, dos Bis, dos pans, dos trans e por ai vai. Respeito todas as tribos, mas me desculpem, eu sou pós moderna. Pertenço a tribo dos tradicionais. Nada de luta entre aranhas ou espadas. Esse negócio de muita diversidade é bonito na casa dos outros. Na minha vida espada luta com aranha, chave entra na fechadura, porca enrosca no parafuso, homem foi feito para mulher e mulher para o homem como Deus criou. Quer encaixe mais perfeito?

Deus...
Ele é o motivo da minha conversa com a minha consciência. Ele fala comigo através dela. Aqui estou eu com o pé na porta dos 30 anos, sentada á noite numa praia, diante de uma lua cheia e de um céu esplendorosamente estrelado, sentindo uma brisa suave acariciar o meu rosto, aquele cheiro gostoso do mar. E me pergunto como alguém pode duvidar que Deus existe? Como posso duvidar? Vejo Deus na lua, vejo Deus no mar, nas areias, no céu estrelado, no sol do dia seguinte, na chuva, na natureza!
“Alô Liana acorda! Você nunca viu Deus na sua vida?” – Minha consciência chamando a minha atenção. Se eu não disser que vejo Deus na minha vida estarei omitindo fatos.

Sou uma mulher de fé. Sou crente num Deus vivo que me ouve, que me vê, que me assiste, que me impulsiona, que me acolhe, que me protege com a palma de Sua mão. Mas um Deus que me exalta e que me abate. Que me disciplina com uma dureza que pesa. Que abre portas para mim, mas que também as fecha. Que diz sim, mas também diz não me deixando desnorteada.